Alguém me enviou por mail esta mensagem.
«É uma enorme hipocrisia afirmar que o Sim significa liberalizar o aborto.
O aborto clandestino é que significa a sua total liberalização: pratica-se em qualquer lado e em qualquer circunstância, sem aconselhamento médico, sem apoio em planeamento familiar e alimentando, entretanto, um negócio altamente lucrativo.»
sábado, janeiro 27, 2007
quarta-feira, janeiro 10, 2007
EUROVISÃO 2007 - MORRISSEY?
Talvez valha a pena assistir ao festival Eurovisão 2007, ou talvez não? Bem, surpresa das surpresas é o convite efectuado a Morrissey para defender as cores da "Union Jack" no Festival da Eurovisão, claro está, endereçado pela BBC.
A obra deste cantor e compositor começa com os Smiths, e para já ele segue numa carreira a solo. Compôs e compõe melodias POP, embora muitas delas vagueiem na fronteira da música ligeira, ou seja, para ele não será dificil compor uma canção que encaixe neste certame.
Sempre foi idolatrado pelo seu trabalho, mas também pela sua personalidade controversa, e o produto da sua criatividade reflete isso mesmo. Desde que compõe letras para a banda que o transformou numa figura pública, "The Smiths", os temas escolhidos por si têm sido sempre "ligeiros", como por exemplo: o abuso sexual infantil, a homossexualidade, a marginalidade, a prostituição, o racismo, a violência doméstica, o abuso de drogas, o suícidio, o terrorismo e até o protesto político. O título do album "The Queen Is Dead" é uma clara provocação à Família Real Inglesa e a canção "Margaret in the Guillotine" valeu a "visita" da polícia Britânica ao seu "Lar doce Lar", porque o seu alvo era a Dama de Ferro, Margaret Tatcher.
Assim é a vida de Steven Patrick Morrissey, admirador incondicional de Oscar Wilde.
O que pensarão os seus acérrimos fãs sobre a possibilidade da incursão de Morrissey ao Festival da Eurovisão?
Daqui chegou a minha surpresa: «A notícia vem da BBC: Morrissey poderá vir a ser o representante de Inglaterra no Festival Eurovisão da Canção.
A BBC encontra-se em conversações com o ex-Smiths que, caso aceite participar, terá de escrever e interpretar o tema.
Este convite acontece depois de Morrissey se ter mostrado horrorizado, mas não surpreso, com o 5º lugar, a partir do fim, conseguido pela Inglaterra, na última edição do festival.
Um porta - voz da editora do músico confirmou que Morrissey recebeu o convite mas que ainda não se decidiu. [Antena 3]»
A obra deste cantor e compositor começa com os Smiths, e para já ele segue numa carreira a solo. Compôs e compõe melodias POP, embora muitas delas vagueiem na fronteira da música ligeira, ou seja, para ele não será dificil compor uma canção que encaixe neste certame.
Sempre foi idolatrado pelo seu trabalho, mas também pela sua personalidade controversa, e o produto da sua criatividade reflete isso mesmo. Desde que compõe letras para a banda que o transformou numa figura pública, "The Smiths", os temas escolhidos por si têm sido sempre "ligeiros", como por exemplo: o abuso sexual infantil, a homossexualidade, a marginalidade, a prostituição, o racismo, a violência doméstica, o abuso de drogas, o suícidio, o terrorismo e até o protesto político. O título do album "The Queen Is Dead" é uma clara provocação à Família Real Inglesa e a canção "Margaret in the Guillotine" valeu a "visita" da polícia Britânica ao seu "Lar doce Lar", porque o seu alvo era a Dama de Ferro, Margaret Tatcher.
Assim é a vida de Steven Patrick Morrissey, admirador incondicional de Oscar Wilde.
O que pensarão os seus acérrimos fãs sobre a possibilidade da incursão de Morrissey ao Festival da Eurovisão?
Daqui chegou a minha surpresa: «A notícia vem da BBC: Morrissey poderá vir a ser o representante de Inglaterra no Festival Eurovisão da Canção.
A BBC encontra-se em conversações com o ex-Smiths que, caso aceite participar, terá de escrever e interpretar o tema.
Este convite acontece depois de Morrissey se ter mostrado horrorizado, mas não surpreso, com o 5º lugar, a partir do fim, conseguido pela Inglaterra, na última edição do festival.
Um porta - voz da editora do músico confirmou que Morrissey recebeu o convite mas que ainda não se decidiu. [Antena 3]»
BATALHA DE HEMISFÉRIOS
Uma entrevista com dois teóricos progressistas a propósito da actual conjuntura política e social da América Latina. Segundo Noam Chomsky e Eduardo Galeano, aos poucos as Américas do Sul e do Centro aliviam-se do cerco comercial, económico, e politico dos países Norte Americanos, personificados pelo FMI, entre outros.
Interessante:
«Eduardo Galeano, escritor e pensador uruguaio, e Noam Chomsky, professor do Instituto Tecnológico de Massachussets (MIT) responderam a um questionário enviado pela BBC Mundo, em Dezembro de 2006, sobre os Estados Unidos e as mudanças políticas na América Latina.
Do site brasileiro Carta Maior, transcrevemos as perguntas da BBC e as respostas de Galeano e Chomsky.
1. Em que medida é um desafio para Washington a chegada ao poder na América Latina de figuras como Evo Morales?
Eduardo Galeano - Haverá quem diga, na Casa Branca: "A democracia dá-nos desgostos. O voto popular é uma arma a mais no arsenal do terrorismo." "Até quando continuaremos a aguentar, de braços cruzados, estas provocações?"
Noam Chomsky - É um desafio extremamente sério, particularmente porque tem lugar junto a outras duas mudanças no hemisfério. Desde a Venezuela à Argentina, os países da região estão a escapar do controlo dos Estados Unidos e a mover-se na direcção de políticas independentes e de integração económica. Estão a começar a reverter os padrões de dependência de potências estrangeiras e o isolamento entre si que data da época da conquista espanhola.
A eleição de Evo Morales reflecte o ingresso da população indígena no cenário político do continente, em Chiapas, da Bolívia ao Equador e em outros lugares, onde se escutam os apelos a uma "nação indígena".
Juntamente com outras forças populares, os povos indígenas estão a exigir o controlo dos seus próprios recursos, o que representa uma séria ameaça para os planos de Washington de ter acesso aos recursos do hemisfério ocidental, especialmente os energéticos. Isto é especialmente certo na Bolívia, que tem as maiores reservas de gás da região depois da Venezuela.
As transformações na região são em parte uma reacção ao efeito desastroso das políticas neoliberais durante 25 anos pelas instituições financeiras internacionais dominadas pelos EUA. Não é um segredo, nem para os economistas, nem para as populações dos países em questão, que naquelas nações que seguiram as recomendações daquelas instituições (como se fez na América Latina) houve uma acentuada queda no crescimento e no progresso em matéria de indicadores sociais. Isto em comparação com períodos anteriores e - de forma dramática - em contraste com países que ignoraram essas recomendações, notavelmente no Sudeste asiático, que implementou políticas mais próximas às que possibilitaram o desenvolvimento dos países ricos.
A Bolívia tinha seguido rigorosamente as regras das instituições financeiras internacionais - excepto quando a revolta obrigou a deixá-las de lado - e sofreu uma queda no seu rendimento per capita, como assinalou recentemente o economista Mark Weisbrot.
A Argentina - há alguns anos a criança modelo do FMI [Fundo Monetário Internacional] - sofreu um colapso desastroso e em seguida recuperou mediante a violação das regras das instituições financeiras internacionais, não satisfazendo a Washington ou ao capital internacional.
A Argentina está a pagar agora quase mil milhões de dólares para "se libertar para sempre" do FMI que, nas palavras do presidente argentino Néstor Kirchner, "agiu com o nosso país como um promotor e um veículo que causaram a pobreza e a dor dos argentinos".
A Argentina foi ajudada pela Venezuela, que comprou grande parte da dívida argentina e também vendeu petróleo a preço baixo. A recente entrada da Venezuela no Mercosul foi descrita por Kirchner como um "marco" no desenvolvimento do bloco e foi qualificada pelo presidente Lula do Brasil como "um novo capítulo na nossa integração".
Num encontro convocado para marcar o ingresso da Venezuela, o presidente Chávez disse que "não podemos permitir um projecto puramente económico, para as elites e as transnacionais", referindo-se ao Acordo de Livre Comércio para as Américas, Alca, o projecto promovido por Washington que suscitou grande oposição da opinião pública.
A Venezuela e outros países na região estão a aumentar os laços económicos com a China e com a União Europeia.
Está-se a dar também em termos mais amplos uma integração Sul-Sul (especialmente com o Brasil, a Índia e a África do Sul). Tudo isto preocupa profundamente Washington.
2. Tornou-se irrelevante para os EUA que cada vez mais governos da região sejam de esquerda?
EG - Há alguns sinais de que se dá o contrário. Está a ser cada vez mais irrelevante para a região que os EUA opinem sobre os governos que elegemos.
NC - Pelo contrário. É um problema sério para Washington, um desafio aos princípios básicos da doutrina de Monroe formulada há 180 anos. Os EUA não tiveram o poder para implementar essa doutrina no hemisfério até à Segunda Guerra Mundial, mas desde aquele momento o fizeram por meios que vão da extrema violência aos controles económicos. Estes meios, no entanto, já não estão disponíveis, como aprenderam tristemente os estrategas do presidente Bush quando apoiaram a falida tentativa de golpe na Venezuela em 2002.
Estes meios de dominação vêem-se, no entanto, corroídos pela tendência à integração das economias da região, pela diversificação das relações internacionais, pela busca do controle dos recursos nacionais e a rejeição das receitas das instituições internacionais.
Tudo isto causou muitas dores de cabeça a Washington, que reagiu. Sob a duvidosa cobertura da "guerra contra o narcotráfico" e da "guerra contra o terror", Washington incrementou mais a ajuda militar e policial que a social e económica. O treino de tropas latino-americanas aumentou claramente. O Comando do Sul (SouthCom) tem agora mais pessoal na América Latina do que a maioria das agências federais civil somadas e o seu foco são o "populismo radical" e outros assuntos internos.
O treino militar passou das mãos do Departamento de Estado para o Pentágono (Departamento de Defesa), ficando liberto do que era pelo menos uma supervisão mínima por parte do Congresso em matéria de direitos humanos e em relação à democracia.
Os EUA estão a estabelecer bases militares ao longo de todo o hemisfério. Mas os meios tradicionais de subversão, de intervenção militar e de controlo económico debilitaram-se seriamente.
3. Os EUA continuam sendo, como alguns acreditam, o império todo-poderoso e factor crucial no destino económico ou político da região?
EG - "A lebre faz o caçador", diz um velho provérbio italiano. É o olhar do fraco que faz todo-poderoso ao poderoso. Quem todo-poderoso? Nem os deuses, menos ainda os homens. Lembro-me de um grafite numa parede de Santiago do Chile: "Todos os deuses foram imortais."
NC - Os EUA nunca foram "todo-poderosos" e menos ainda agora. Apesar disso, ainda dominam o continente e o mundo, certamente em termos de poder militar.
Mesmo com a evolução de uma ordem económica tripolar nas décadas recentes (América do Norte, Europa, Nordeste Asiático com crescentes vínculos com o resto da Ásia), e com as mudanças no Sul, a dominação económica dos Estados Unidos nem sequer se aproxima do que foi no passado e, de fato, é bastante frágil.
Um olhar a fundo sobre este tema requereria, no entanto, uma análise mais profunda do que queremos dizer com "Estados Unidos". Se nos referimos à população norte-americana, a dominação é menor. Mas se nos referimos aos que de fato são os donos do país, o sistema corporativo, o panorama é diferente.
Mas o famoso "défice da balança comercial" dos Estados Unidos diminui consideravelmente quando consideramos as importações de multinacionais dos EUA e suas subsidiárias no exterior como exportações norte-americanas, o que é apropriado se identificamos o país com os que em grande medida são mesmo donos dele.
4. A América Latina será ainda menos prioritária para os EUA devido à guerra no Iraque e a outros acontecimentos de maior importância para Washington?
EG - Que eles fiquem com as coisas deles, para nós trata-se de perder o medo. A cultura da impotência, triste herança colonial, ainda ata as nossas mãos. Continuamos a aceitar que nos façam exames, que nos digam o que se pode e o que não se pode... Lembro-me de uma assembleia operária, nas minas da Bolívia, há um tempinho, mais de trinta anos: uma mulher levantou-se, entre todos os homens, e perguntou qual é o nosso inimigo principal. Ouviram-se vozes que responderam "O imperialismo", "A oligarquia", "A burocracia"... E ela, Doitila Chungara, esclareceu: "Não, companheiros. O nosso inimigo principal é o medo e nós o levamos dentro de nós". Eu tive a sorte de ouvi-la dizer isso. E nunca mais me esqueci.
NC - Suspeito que a América Latina estará muito em cima na lista de prioridades dos EUA. Enquanto a América Latina era silenciosa e obediente, parece haver sido ignorada pelos EUA. Digo "parece", porque na realidade, a sua subordinação parecia segura e as políticas para a região eram desenhadas com base nisso.
Esta postura de aparente negligência em relação à região mudou rapidamente quando houve sinais de independência. Recordemos que a extrema hostilidade dos EUA com Cuba desde 1959 é atribuída em documentos internos ao "desafio com sucesso" por parte de Cuba em relação a políticas dos EUA que remontam à Doutrina Monroe.
O desafio é intolerável por si, porém mais ainda quando, como no caso de Cuba, se teme que o sucesso desse desenvolvimento independente possa ser um "exemplo contagioso" que "infecte" outros, parafraseando termos utilizados por Kissinger ao se referir ao Chile de Allende. Kissinger temia que o Chile pudesse inclusive "infectar" o sul da Europa, uma preocupação que compartilhava com Leonid Brejnev.
Além disso, como disse, os estrategas de Washington deram por estabelecido que poderiam contar com os ricos recursos da América Latina, em especial em matéria energética, Mesmo nos prognósticos mais prudentes, pode-se dizer que não renunciariam a estes recursos com equanimidade.
5. Para além das declarações e diferenças entre Washington e presidentes como Hugo Chavez, outras ferramentas são muito mais importantes no jogo do poder? São mais importantes hoje outros mecanismos de pressão como o fecho de mercados ou a modificação de tarifas aduaneiras?
EG - A máquina usa muitos dentes. A máquina abre a boca e mostra os dentes financeiros, políticos, jornalísticos, militares... Se não assusta, não funciona.
Chomsky - A integração económica internacional é de enorme relevância, mas não devemos cair em apreciações erradas que são frequentes. Os mecanismos desenvolvidos e impostos pelos EUA e seus aliados não são "tratados de livre comércio".
São uma mistura de liberalização e proteccionismo desenhada - não surpreendentemente - de acordo com o interesse dos seus criadores: as corporações multinacionais e os Estados que estão ao seu serviço como "ferramentas e tiranos", para utilizar a expressão com que James Madison descreveu o surgimento do capitalismo de Estado no seu início.
Os acordos comerciais garantem amplamente o direito de fixar preços de monopólio. Privam também aos países em desenvolvimento dos mecanismos que empregaram as sociedades industrializadas ricas para alcançar o seu estado actual. Além disso, o que se chama de "comércio" é em parte uma ficção económica, que inclui vastas transferências infra-firmas dentro das economias ricas, que não constituem mais "comércio" que o do Kremlin quando produzia componentes em Leningrado, transportava-os para a Polónia para a sua montagem e em seguida devolvia-os para a sua venda para Moscou, numa "exportação" e "importação" que atravessava fronteiras formais.
Mesmo deixando tudo isso de lado, as economias dos países ricos, e especialmente a dos EUA, dependem em grande medida do dinâmico sector estatal para socializar o custo e o risco e privatizar os lucros.
E os acordos apenas se podem chamar "acordos", pelo menos se consideramos o povo como parte essencial destas sociedades. Estes acordos, impostos praticamente em segredo, têm sido tremendamente impopulares, na medida em que o povo foi conhecendo o seu conteúdo...
No Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), as únicas palavras certas são "América do Norte". No entanto, a eficácia destes mecanismos depende em ultima instância da aceitação pública, e como ficou em evidência recentemente na América Latina, essa aceitação está longe de estar garantida.» [Fonte, esquerda.net]
Interessante:
«Eduardo Galeano, escritor e pensador uruguaio, e Noam Chomsky, professor do Instituto Tecnológico de Massachussets (MIT) responderam a um questionário enviado pela BBC Mundo, em Dezembro de 2006, sobre os Estados Unidos e as mudanças políticas na América Latina.
Do site brasileiro Carta Maior, transcrevemos as perguntas da BBC e as respostas de Galeano e Chomsky.
1. Em que medida é um desafio para Washington a chegada ao poder na América Latina de figuras como Evo Morales?
Eduardo Galeano - Haverá quem diga, na Casa Branca: "A democracia dá-nos desgostos. O voto popular é uma arma a mais no arsenal do terrorismo." "Até quando continuaremos a aguentar, de braços cruzados, estas provocações?"
Noam Chomsky - É um desafio extremamente sério, particularmente porque tem lugar junto a outras duas mudanças no hemisfério. Desde a Venezuela à Argentina, os países da região estão a escapar do controlo dos Estados Unidos e a mover-se na direcção de políticas independentes e de integração económica. Estão a começar a reverter os padrões de dependência de potências estrangeiras e o isolamento entre si que data da época da conquista espanhola.
A eleição de Evo Morales reflecte o ingresso da população indígena no cenário político do continente, em Chiapas, da Bolívia ao Equador e em outros lugares, onde se escutam os apelos a uma "nação indígena".
Juntamente com outras forças populares, os povos indígenas estão a exigir o controlo dos seus próprios recursos, o que representa uma séria ameaça para os planos de Washington de ter acesso aos recursos do hemisfério ocidental, especialmente os energéticos. Isto é especialmente certo na Bolívia, que tem as maiores reservas de gás da região depois da Venezuela.
As transformações na região são em parte uma reacção ao efeito desastroso das políticas neoliberais durante 25 anos pelas instituições financeiras internacionais dominadas pelos EUA. Não é um segredo, nem para os economistas, nem para as populações dos países em questão, que naquelas nações que seguiram as recomendações daquelas instituições (como se fez na América Latina) houve uma acentuada queda no crescimento e no progresso em matéria de indicadores sociais. Isto em comparação com períodos anteriores e - de forma dramática - em contraste com países que ignoraram essas recomendações, notavelmente no Sudeste asiático, que implementou políticas mais próximas às que possibilitaram o desenvolvimento dos países ricos.
A Bolívia tinha seguido rigorosamente as regras das instituições financeiras internacionais - excepto quando a revolta obrigou a deixá-las de lado - e sofreu uma queda no seu rendimento per capita, como assinalou recentemente o economista Mark Weisbrot.
A Argentina - há alguns anos a criança modelo do FMI [Fundo Monetário Internacional] - sofreu um colapso desastroso e em seguida recuperou mediante a violação das regras das instituições financeiras internacionais, não satisfazendo a Washington ou ao capital internacional.
A Argentina está a pagar agora quase mil milhões de dólares para "se libertar para sempre" do FMI que, nas palavras do presidente argentino Néstor Kirchner, "agiu com o nosso país como um promotor e um veículo que causaram a pobreza e a dor dos argentinos".
A Argentina foi ajudada pela Venezuela, que comprou grande parte da dívida argentina e também vendeu petróleo a preço baixo. A recente entrada da Venezuela no Mercosul foi descrita por Kirchner como um "marco" no desenvolvimento do bloco e foi qualificada pelo presidente Lula do Brasil como "um novo capítulo na nossa integração".
Num encontro convocado para marcar o ingresso da Venezuela, o presidente Chávez disse que "não podemos permitir um projecto puramente económico, para as elites e as transnacionais", referindo-se ao Acordo de Livre Comércio para as Américas, Alca, o projecto promovido por Washington que suscitou grande oposição da opinião pública.
A Venezuela e outros países na região estão a aumentar os laços económicos com a China e com a União Europeia.
Está-se a dar também em termos mais amplos uma integração Sul-Sul (especialmente com o Brasil, a Índia e a África do Sul). Tudo isto preocupa profundamente Washington.
2. Tornou-se irrelevante para os EUA que cada vez mais governos da região sejam de esquerda?
EG - Há alguns sinais de que se dá o contrário. Está a ser cada vez mais irrelevante para a região que os EUA opinem sobre os governos que elegemos.
NC - Pelo contrário. É um problema sério para Washington, um desafio aos princípios básicos da doutrina de Monroe formulada há 180 anos. Os EUA não tiveram o poder para implementar essa doutrina no hemisfério até à Segunda Guerra Mundial, mas desde aquele momento o fizeram por meios que vão da extrema violência aos controles económicos. Estes meios, no entanto, já não estão disponíveis, como aprenderam tristemente os estrategas do presidente Bush quando apoiaram a falida tentativa de golpe na Venezuela em 2002.
Estes meios de dominação vêem-se, no entanto, corroídos pela tendência à integração das economias da região, pela diversificação das relações internacionais, pela busca do controle dos recursos nacionais e a rejeição das receitas das instituições internacionais.
Tudo isto causou muitas dores de cabeça a Washington, que reagiu. Sob a duvidosa cobertura da "guerra contra o narcotráfico" e da "guerra contra o terror", Washington incrementou mais a ajuda militar e policial que a social e económica. O treino de tropas latino-americanas aumentou claramente. O Comando do Sul (SouthCom) tem agora mais pessoal na América Latina do que a maioria das agências federais civil somadas e o seu foco são o "populismo radical" e outros assuntos internos.
O treino militar passou das mãos do Departamento de Estado para o Pentágono (Departamento de Defesa), ficando liberto do que era pelo menos uma supervisão mínima por parte do Congresso em matéria de direitos humanos e em relação à democracia.
Os EUA estão a estabelecer bases militares ao longo de todo o hemisfério. Mas os meios tradicionais de subversão, de intervenção militar e de controlo económico debilitaram-se seriamente.
3. Os EUA continuam sendo, como alguns acreditam, o império todo-poderoso e factor crucial no destino económico ou político da região?
EG - "A lebre faz o caçador", diz um velho provérbio italiano. É o olhar do fraco que faz todo-poderoso ao poderoso. Quem todo-poderoso? Nem os deuses, menos ainda os homens. Lembro-me de um grafite numa parede de Santiago do Chile: "Todos os deuses foram imortais."
NC - Os EUA nunca foram "todo-poderosos" e menos ainda agora. Apesar disso, ainda dominam o continente e o mundo, certamente em termos de poder militar.
Mesmo com a evolução de uma ordem económica tripolar nas décadas recentes (América do Norte, Europa, Nordeste Asiático com crescentes vínculos com o resto da Ásia), e com as mudanças no Sul, a dominação económica dos Estados Unidos nem sequer se aproxima do que foi no passado e, de fato, é bastante frágil.
Um olhar a fundo sobre este tema requereria, no entanto, uma análise mais profunda do que queremos dizer com "Estados Unidos". Se nos referimos à população norte-americana, a dominação é menor. Mas se nos referimos aos que de fato são os donos do país, o sistema corporativo, o panorama é diferente.
Mas o famoso "défice da balança comercial" dos Estados Unidos diminui consideravelmente quando consideramos as importações de multinacionais dos EUA e suas subsidiárias no exterior como exportações norte-americanas, o que é apropriado se identificamos o país com os que em grande medida são mesmo donos dele.
4. A América Latina será ainda menos prioritária para os EUA devido à guerra no Iraque e a outros acontecimentos de maior importância para Washington?
EG - Que eles fiquem com as coisas deles, para nós trata-se de perder o medo. A cultura da impotência, triste herança colonial, ainda ata as nossas mãos. Continuamos a aceitar que nos façam exames, que nos digam o que se pode e o que não se pode... Lembro-me de uma assembleia operária, nas minas da Bolívia, há um tempinho, mais de trinta anos: uma mulher levantou-se, entre todos os homens, e perguntou qual é o nosso inimigo principal. Ouviram-se vozes que responderam "O imperialismo", "A oligarquia", "A burocracia"... E ela, Doitila Chungara, esclareceu: "Não, companheiros. O nosso inimigo principal é o medo e nós o levamos dentro de nós". Eu tive a sorte de ouvi-la dizer isso. E nunca mais me esqueci.
NC - Suspeito que a América Latina estará muito em cima na lista de prioridades dos EUA. Enquanto a América Latina era silenciosa e obediente, parece haver sido ignorada pelos EUA. Digo "parece", porque na realidade, a sua subordinação parecia segura e as políticas para a região eram desenhadas com base nisso.
Esta postura de aparente negligência em relação à região mudou rapidamente quando houve sinais de independência. Recordemos que a extrema hostilidade dos EUA com Cuba desde 1959 é atribuída em documentos internos ao "desafio com sucesso" por parte de Cuba em relação a políticas dos EUA que remontam à Doutrina Monroe.
O desafio é intolerável por si, porém mais ainda quando, como no caso de Cuba, se teme que o sucesso desse desenvolvimento independente possa ser um "exemplo contagioso" que "infecte" outros, parafraseando termos utilizados por Kissinger ao se referir ao Chile de Allende. Kissinger temia que o Chile pudesse inclusive "infectar" o sul da Europa, uma preocupação que compartilhava com Leonid Brejnev.
Além disso, como disse, os estrategas de Washington deram por estabelecido que poderiam contar com os ricos recursos da América Latina, em especial em matéria energética, Mesmo nos prognósticos mais prudentes, pode-se dizer que não renunciariam a estes recursos com equanimidade.
5. Para além das declarações e diferenças entre Washington e presidentes como Hugo Chavez, outras ferramentas são muito mais importantes no jogo do poder? São mais importantes hoje outros mecanismos de pressão como o fecho de mercados ou a modificação de tarifas aduaneiras?
EG - A máquina usa muitos dentes. A máquina abre a boca e mostra os dentes financeiros, políticos, jornalísticos, militares... Se não assusta, não funciona.
Chomsky - A integração económica internacional é de enorme relevância, mas não devemos cair em apreciações erradas que são frequentes. Os mecanismos desenvolvidos e impostos pelos EUA e seus aliados não são "tratados de livre comércio".
São uma mistura de liberalização e proteccionismo desenhada - não surpreendentemente - de acordo com o interesse dos seus criadores: as corporações multinacionais e os Estados que estão ao seu serviço como "ferramentas e tiranos", para utilizar a expressão com que James Madison descreveu o surgimento do capitalismo de Estado no seu início.
Os acordos comerciais garantem amplamente o direito de fixar preços de monopólio. Privam também aos países em desenvolvimento dos mecanismos que empregaram as sociedades industrializadas ricas para alcançar o seu estado actual. Além disso, o que se chama de "comércio" é em parte uma ficção económica, que inclui vastas transferências infra-firmas dentro das economias ricas, que não constituem mais "comércio" que o do Kremlin quando produzia componentes em Leningrado, transportava-os para a Polónia para a sua montagem e em seguida devolvia-os para a sua venda para Moscou, numa "exportação" e "importação" que atravessava fronteiras formais.
Mesmo deixando tudo isso de lado, as economias dos países ricos, e especialmente a dos EUA, dependem em grande medida do dinâmico sector estatal para socializar o custo e o risco e privatizar os lucros.
E os acordos apenas se podem chamar "acordos", pelo menos se consideramos o povo como parte essencial destas sociedades. Estes acordos, impostos praticamente em segredo, têm sido tremendamente impopulares, na medida em que o povo foi conhecendo o seu conteúdo...
No Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), as únicas palavras certas são "América do Norte". No entanto, a eficácia destes mecanismos depende em ultima instância da aceitação pública, e como ficou em evidência recentemente na América Latina, essa aceitação está longe de estar garantida.» [Fonte, esquerda.net]
terça-feira, janeiro 09, 2007
TODA A IMAGINAÇÃO
Toda a imaginação vale quando o nosso posto de trabalho está em causa. «Ovar: Proposto ao Grupo Amorim absorver 300 empregados da Yazaki.» [Em JN de 09-01-2007] Mas quem propôs?
segunda-feira, janeiro 08, 2007
INFELICIDADE
Agora um post sobre infelicidade, que não é mais do que o reflexo dos acontecimentos de ontem no Estádio do Dragão. Não me refiro à infelicidade da maioria dos espectadores que se encontravam no Estádio das Antas, mas da minha infelicidade ao verificar que o meu Benfica não fez melhor que o Atlético, mas fiquei feliz com o resultado. E o resultado foi este.
domingo, janeiro 07, 2007
FELICIDADE
Foi interessante ouvir Paula Moura Pinheiro no seu Camara Clara e João Pereira Coutinho falarem de felicidade, onde num juizo moral e intelectual afirmaram o engodo da "felicidade plena", prometida pelos sistemas políticos utópicos, dado que facilmente caiem ou cairam no contraditório e estabelecem ou estabeleceram o oposto.
Enternecedor e até comovente foi assitir às expressões cândidas de PMP e JPC, quando a primeira lê um excerto da Declaração de Independência do Estados Unidos da América de 1776, cujo o autor foi Thomas Jefferson: «Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens foram criados iguais, foram dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade»
Porém contradições das contradições, paradoxos dos paradoxos, incompatibilidades das incompatibilidades encontro-as aqui, através da seguinte redacção, «PARECE PARADOXAL que Thomas Jefferson, um dos eternos heróis da democracia norte-americana, fosse também o proprietário de mais de 180 escravos exatamente à época em que proclamava que todos os homens foram criados iguais e foram "dotados por seu Criador" com os "direitos inalienáveis" à "vida, liberdade e à busca da felicidade". Além disso, ao longo da existência ele continuou afirmando que a escravidão era injusta e imoral. Em 1785 usara a frase "avareza e opressão" para caracterizar o interesse escravista e a contrastara com o "direito sagrado" à emancipação. Um ano depois, admirava-se ao constatar que patriotas norte-americanos que haviam suportado castigos físicos, fome e prisão nas mãos de seus opressores britânicos pudessem infligir "em seus semelhantes um cativeiro uma hora do qual produz mais infelicidade do que séculos daquele cativeiro contra o qual se insurgiram e combateram". No último ano de vida, Jefferson reiterou sua crença de que era ilegal "um homem apropriar-se para seu uso das faculdades de outro sem seu consentimento"».
Quase que me apetecia citar Fernando Pessa na sua imensa sabedoria ...
Enternecedor e até comovente foi assitir às expressões cândidas de PMP e JPC, quando a primeira lê um excerto da Declaração de Independência do Estados Unidos da América de 1776, cujo o autor foi Thomas Jefferson: «Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens foram criados iguais, foram dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade»
Porém contradições das contradições, paradoxos dos paradoxos, incompatibilidades das incompatibilidades encontro-as aqui, através da seguinte redacção, «PARECE PARADOXAL que Thomas Jefferson, um dos eternos heróis da democracia norte-americana, fosse também o proprietário de mais de 180 escravos exatamente à época em que proclamava que todos os homens foram criados iguais e foram "dotados por seu Criador" com os "direitos inalienáveis" à "vida, liberdade e à busca da felicidade". Além disso, ao longo da existência ele continuou afirmando que a escravidão era injusta e imoral. Em 1785 usara a frase "avareza e opressão" para caracterizar o interesse escravista e a contrastara com o "direito sagrado" à emancipação. Um ano depois, admirava-se ao constatar que patriotas norte-americanos que haviam suportado castigos físicos, fome e prisão nas mãos de seus opressores britânicos pudessem infligir "em seus semelhantes um cativeiro uma hora do qual produz mais infelicidade do que séculos daquele cativeiro contra o qual se insurgiram e combateram". No último ano de vida, Jefferson reiterou sua crença de que era ilegal "um homem apropriar-se para seu uso das faculdades de outro sem seu consentimento"».
Quase que me apetecia citar Fernando Pessa na sua imensa sabedoria ...
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