Prémio José Carvalho, piloto português de helicópteros, voa ao serviço da OMS pelos rios do Togo Missão premiada consiste na erradicação de larva de mosca que provoca uma doença grave
José Carvalho vive para asua missão de pilotar e ajudar os outros
"Este não é bem um trabalho técnico, é mais um trabalho artístico, porque é preciso ter feeling" diz José Carvalho, piloto de helicóptero, que há vários anos sobrevoa os rios do Togo. O seu trabalho, ao serviço da Evergreen Helicopters, uma empresa norte-americana com sede no Estado de Oregon, serve um projecto da Organização Mundial de Saúde destinado a erradicar uma doença popularmente chamada "cegueira dos rios".
Mas, afinal, o que é esta doença que o piloto tem ajudado a combater e lhe valeu, em 2003, o prémio Igor Sikorsky da Helicopeter Association International? (ver caixa) "Oncocercose", o seu nome científico, é uma endemia produzida por uma larva veiculada por uma mosca negra particularmente virulenta acabando por provocar, por exemplo, a cegueira e lesões cutâneas.
O insecto existe em vários pontos do Mundo, e particularmente na África ocidental, cujo programa de controlo, a cargo da OMS, foi criado em 1974, tendo sido já apontado como de sucesso inegável. José Carvalho diz que no Togo, actualmente, a taxa de doença é residual, mas estima-se que na África Ocidental afecte cerca de 30 milhões de pesoas. Portugal, entre outros países, também participa no programa.
Decidir qual o melhor lugar dos cursos de água onde o produto que sobre eles lança do seu helicóptero encontrará as larvas da mosca responsável pela doença justifica a necessidade do tal "feeling" de que o piloto fala. Se não, poder-se-á dizer, é carga perdida. E são voos necessariamente rasantes, que uma vez lhe valeram um acidente de que saiu ileso embora o aparelho tenha ido para a sucata... Aqui, para lá de um olhar clínico quanto ao movimento das águas, é preciso estar bem atento aos perigos. E eis que correr este perigo, aliás necessário para o êxito da colocação dos químicos, lhe permite legalmente voar de uma maneira absolutamente proibida.
Milhares de horas
São já muitos millhares de horas de voo. José Carvalho, natural de Torres Vedras, fez-se piloto de helicópteros na tropa. Desde então, a maior parte da sua vida (tem 55 anos) foi feita na terra e nos ares africanos, sempre ao comando de uma dessas máquinas que é como se fosse um prolongamento do corpo. Porque, diz, necessariamente simplificando, "um avião vai sempre em frente, enquanto um helicópetro pode parar no ar, andar para trás ou para a frente, rodar sobre si próprio..." E aos comandos de um helicóptero diz sentir um especial prazer neste trabalho que implica directamente uma importante ajuda a populações muito carenciadas. [JN]
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