domingo, janeiro 09, 2005

WILL EISNER


Imagem [Link]

Porque gosto muito de BD, e não conhecia este autor e a magnitude da sua intervenção transcrevo este texto do JN e realço o seguinte fragmento do artigo: «Graficamente, "The Spirit" foi um corte com a planificação tradicional, trazendo para a BD muito da linguagem cinematográfica grandes planos, picado/contra-picado, uso de grande angular. Dessa forma, Eisner marcava o ritmo, enquanto explanava o talento no uso do pincel, em magistrais contrastes de claro/escuro e na expressividade dos rostos e da expressão corporal das personagens, com destaque para as belíssimas e sedutoras mulheres como Satin ou P'Gell.»

ARTIGO COMPLETO [Fonte – JN]:

Will Eisner, o pintor de NY

«Autor norte-americano desapareceu aos 87 anos de idade Considerado pai dos 'comics' modernos deixa como marcos fundamentais, na história da BD, a personagem The Spirit e as 'graphic novels'

Will Eisner morreu na semana passada. Tinha 87 anos e não resistiu a um quádruplo 'by-pass'.

"Pai dos 'comics' modernos" ou "o maior criador de BD de todos os tempos" são algumas das expressões que foram utilizadas para o definir. E que não são exagerados pois, Will Eisner, nascido em Nova Iorque a 6 de Março de 1917, será sempre um dos nomes incontornáveis da banda desenhada, à qual dedicou mais de 60 anos, e um dos poucos autores (o único?) que se podia gabar de ter sido responsável por duas revoluções na banda desenhada, a primeira com a criação de "The Spirit" e a segunda com a criação, nos EUA, das 'graphic novel' - novelas (ou romances) gráficos.

"The Spirit", o combatente classe média do crime

"The Spirit" nasceu no início da década de 40, em histórias curtas, publicadas em, suplementos de jornais. Após a mobilização para a II Guerra Mundial, Eisner retomá-lo-ia nos finais de 1945 para, um ano depois, atingir o seu período áureo.
Identidade secreta de Denny Colt, um criminologista que todos julgaram morto e que se aproveitou disso para combater o crime sem trâmites burocráticos, The Spirit "um combatente classe média do crime, sem super-poderes nem super-uniforme", como o definiu o autor, era uma paródia aos muitos super-heróis que então pululavam na BD. As suas histórias, combinavam humor, mistério e acção, com frequentes incursões noutros géneros, pois Eisner sempre usou "The Spirit" para contar as histórias que lhe apetecia, não surpreendendo por isso que, muitas vezes, ele fosse mero figurante.
Graficamente, "The Spirit" foi um corte com a planificação tradicional, trazendo para a BD muito da linguagem cinematográfica grandes planos, picado/contra-picado, uso de grande angular. Dessa forma, Eisner marcava o ritmo, enquanto explanava o talento no uso do pincel, em magistrais contrastes de claro/escuro e na expressividade dos rostos e da expressão corporal das personagens, com destaque para as belíssimas e sedutoras mulheres como Satin ou P'Gell.
Enquanto dava vida a "The Spirit", Eisner dedicou-se também à BD pedagógica, e ao seu estudo e ensino, paixão assumida, descoberta quando, no exército, lhe pediram "para produzir histórias educativas para os soldados".
Entusiasmado com as potencialidades desta arte - técnicas, comerciais, pedagógicas - Eisner foi aprofundado a questão e "demasiado envolvido com as outras aplicações dos quadradinhos, em especial o ensino, como estava mais interessado nesta utilização da arte, abandonei o Spirit", no auge da sua popularidade, em 1952. Essa experiência deu origem a dois livros incontornáveis no que respeita ao ensino e à análise formal da banda desenhada "Comics and Sequencial art" (1985) e "Graphic Storytelling & Visual Narrative" (1996).

Novelas gráficas

Em 1978, Eisner regressou de forma surpreendente, inovando mais uma vez num meio em que tudo parecia inventado, ao criar o conceito de 'graphic novel'. Histórias "sérias", para leitores adultos, equivalentes, se assim se pode dizer, aos romances literários, sem limitação do número de páginas, da temática ou da forma. Em "A contract with god", e noutras que se lhe seguiram, como "Big City", "New York", The Building" ou "Dropsie Avenue", deu largas à paixão pela sua Nova Iorque natal, que Eisner desenhou como ninguém, numa relação que só terá equivalente em Woody Allen, no cinema. Combinando ficção com dados históricos e autobiográficos, criou relatos intensos, dramáticos, palpitantes, com uma cidade viva como pano de fundo e os seus habitantes - anónimos, muitos deles judeus e/ou imigrantes como os seus pais - como protagonistas.
Quem o (re)leu ao longo dos anos, desejaria que Will Eisner pudesse, tal como Denny Colt, regressar à vida quando todos o julgam morto. Fá-lo-á, de cada vez que (re)lermos a sua obra.»

Sem comentários: