segunda-feira, abril 19, 2004

GUERRILHEIROS DAS PALAVRAS - I

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Na história da música portuguesa existem muitas personalidades marcantes. Artistas que, pelo seu talento, carisma e popularidade marcaram o seu tempo.
Não são muitos, porém, os que determinaram a história da música. José Afonso foi um deles.
Ficaria conhecido por um nome ao mesmo tempo íntimo e universal: Zeca Afonso. Um nome que refere mais do que o artista, mas convoca uma figura poderosa no imaginário colectivo, figura que adquire contornos de mito. Disso tinha, de alguma forma, consciência. Na longa recolha de entrevistas que José António Salvador reuniu no livro Livra-te do Medo, afirma: "Eu um mito? (...) Só sinto que sou um mito quando me falam disso."
José Afonso não se limitou a determinar o curso da história da música. Foi protagonista destacado nas principais mudanças culturais, políticas e sociológicas que Portugal conheceu desde os anos sessenta.
Talvez seja esta a principal característica que distingue Zeca Afonso. Ele transcendeu largamente a sua condição de compositor-cantor e o seu estatuto de artista. Foi um homem que fez de novo.


JOSÉ Manuel Cerqueira AFONSO dos Santos, filho de Maria das Dores e José Nepomuceno Afonso, nasceu em Aveiro, a 2 de Agosto de 1929.
Durante a sua infância percorreu diversos lugares que passaram desde logo a constituir referências e constantes memórias - Aveiro, Angola, Moçambique, Belmonte.
No início dos anos 40, e até 1953, Coimbra foi a cidade onde permaneceu, aí frequentando o liceu e a Faculdade de Letras. Integrou o Orfeão Académico e a Tuna Académica da Universidade, começando também a interpretar o Fado de Coimbra.
Entre 1953 e 1955 cumpriu o serviço militar em Mafra. Após o que voltou a Coimbra iniciando então a sua actividade no ensino, leccionando em Mangualde, Aljustrel, Lagos, Faro e Alcobaça.
Em 1958, no claustro do Mosteiro de Ceira perto de Coimbra, gravou o seu primeiro disco.
Após uma breve permanência em Faro, partiu para Moçambique onde ficou entre 1964 e 1967, ensinando em Lourenço Marques e na Cidade da Beira.
Voltou para Portugal em 1967, fixando-se em Setúbal.
Foi expulso do ensino oficial por razões políticas. A partir daí a sua actividade dividiu-se entre as explicações particulares e o canto, apoiando numerosas colectividades e associações populares, a par de uma cada vez mais comprometida actividade política.
Depois do 25 de Abril de 1974, José Afonso partilhou e entregou-se por inteiro à liberdade, à solidariedade, à fraternidade.
Entre 1979 e 1987 viveu em Azeitão.
Percorreu centenas de quilómetros cantando sempre e para sempre, porque afinal há silêncios que não existem.

Discografia

Créditos : o texto em itálico e a foto foram retirados daqui
o outro texto daqui

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